2 de out. de 2021

Campeã de fisiculturismo tem história de superação


Laura Boppré: 

Você pode tudo! Como o incentivo do médico transformou sua vida.

(Acervo de Laura) Quando decidiu se tornar atleta,
Laura e as pessoas ao redor começaram a notar as mudanças no seu corpo


Ainda jovem, aos 27 anos, logo após passar no concurso para professora, ela percebeu uma anomalia no olho esquerdo. Os médicos constataram que se tratava de uma doença rara e ela passou por várias cirurgias e algumas complicações.

"Afastada do trabalho, levei mais de dois anos para me adaptar com a visão monocular". Mas ela seguiu vivendo normalmente dentro de certos limites.

Há quatros anos, percebeu que a outra visão já não era mais a mesma. De volta ao consultório médico e exames, recebeu a notícia que era portadora de uma doença degenerativa chamada  retinose pigmentar que lhe tiraria a visão aos poucos.

Eu iria perder a visão do outro olho.


Abalada, tomou consciência que se tornaria uma deficiente visual e dependente dos outros. 
Uma amiga, vendo-a desestimulada, deu-lhe um mês de academia afim de estimulá-la e levantar seu astral. No início, Laura ficou receosa de se machucar ou tropeçar pois sua visão estava bem comprometida. Encontrou ali um instrutor que a ajudou no sentido de levar adiante os exercícios.

"Quando comentei sobre isso com um dos médicos que me acompanhava, no entanto, fui bastante desestimulada. Ele me sugeriu que a partir daquele diagnóstico, o melhor para mim seria me recolher em casa e andar somente pelo quintal de casa, de braços dados com alguém. Ouvir aquilo foi terrível, porque meu desejo era ser uma parte da sociedade, de me sentir igual a todo mundo".

Não conformada, procurou conselhos com outros médicos até que ouviu de um deles uma frase que mudaria sua vida. Ele disse: "Você pode tudo!"

Aos poucos, percebeu as mudanças em seu corpo e começou a pesquisar sobre atletismo, aumentando seu interesse no fisiculturismo. A perda progressiva da visão, a idade, as dificuldades todas não a impediram de continuar no seu objetivo. Lembrava sempre as palavras do médico e repetia pra si mesma, "eu posso tudo".

Aos 50, anos foi chamada para participar de um concurso de fisiculturismo.

"Um dia, comecei a interagir pelas redes sociais com o fisiculturista Fernando Sardinha. Vendo o meu perfil, ele me convidou a participar do campeonato Sardinha Classic, em Balneário Camboriú (SC), na categoria especial, voltada para pessoas com deficiência. Na hora, eu não pensei em tudo o que teria que aprender, nem nas dificuldades que teria que enfrentar. Simplesmente perguntei se poderia ter alguém me acompanhando no palco e diante da resposta positiva, aceitei o desafio e fui", disse ela em recente entrevista para
a Ana Bardella De Universa.

Animada, montou uma pequena equipe com o personal trainer, preparador físico, o instrutor da academia e o médico para ajudá-la naquele gigantesco desafio, mas a maior dificuldade, segundo ela, foi aprender a andar de salto alto para o evento, sem perder o equilíbrio.

Finalmente chegou o grande dia e foi muito bem recebida no palco. Ali sentia-se plena, igual a todo mundo. Diferente de quando andava na rua e as pessoas apressadas nem a viam, apenas desviavam apressadas para não tropeçarem na sua bengala. 

Tenho deficiência visual e fui campeã de fisiculturismo aos 50 anos.

Instagram @laurabopprejustino



"Hoje em dia, tenho ainda preservada uma pequena parte da visão central, mas sei que corro o risco de perdê-la. Apesar disso, sinto como se estivesse iniciando e me realizando em uma nova carreira, algo que não pude fazer na minha juventude. Graças aos exercícios, tenho muito mais autonomia, força, segurança e autoestima — e não pretendo sair desse universo tão cedo". Laura Boppre Justino, 50 anos, fisiculturista, mora em Tubarão (SC)







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